Olimpíadas
de Filosofia 2015
“O
cuidado com o outro: que
diferença isso faz para nossas existências?".
Oficina n° 02:
Fala
sério! Só porque nasci animal racional, preciso carregar superioridade
irracional?
Elaborada e
coordenad por: Éverton Luis da Silva
Lião e Viviana Furlan*
Problema
filosófico: O cuidado com o outro, que diferença isso faz para nossa
existência?/ Só porque nasci animal racional, preciso carregar superioridade
irracional? Especismo é problema?
Contextualização: Existe algum desequilíbrio
ou preconceito oculto entre os animais? Como a relação do homem com o animal
evoluiu? Aqui estes vínculos serão explorados ao abordar a problemática
passagem da posse à humanização de animais não humanos. Um olhar sobre a ética
de Singer e o hiperconsumismo de Lipovetsky na tentativa humana de modificar ao
outro a ponto de consumi-lo neste ato, mesmo que no intuito primeiro de
protegê-lo. Quais intenções movem nossas ações diante do cuidado, acolhida ou
alienação perante a importância deste outro não-humano em nossa existência.
Podem existir relações ocultas de poder e submissão do outro neste nosso ato de
cuidar?
Tema da unidade: Ética:
sensibilização e assimilação de diferentes âmbitos de aplicação dos valores
éticos diante do cuidado com o outro e sua afetividade existencial; o hiperconsumismo
do outro; relações de poder; especismo. Todos com ênfase frente a
possíveis juízos éticos e a autonomia
nas tomadas de decisão.
Período de execução do
plano: 3h:
40 min. sendo 1h: 30min. para oficina e debate, com o restante do horário para
apresentação das produções teatrais e encerramento.
Objetivo
Geral:
ü Identificar as diferentes manifestações da relação de poder entre o ser
humano e os animais não humanos, percebendo possíveis problemas de um agir
hiperconsumista deste outro, passando também pela abordagem do preconceito
contida no especismo ou pela tentativa de humanização de outra espécie oculta
na intencionalidade por trás das ações de cuidado com o outro ou sua alienação
frente a esta preocupação, assimilando tais reflexões de modo a aplica-las em
uma produção teatral autoral coletiva desta experiência.
Objetivos
específicos:
ü Desenvolver o
hábito da análise em reflexão sobre as possíveis tomadas de decisões de fundo
ético, reconhecendo a importância do outro para si e vice-versa;
ü Produzir
situações com fundos éticos de acordo com diferentes abordagens filosóficas
sobre a relação do homem com o animal ao longo da história, identificando
possíveis relações de abuso de poder ou necessidade;
ü Assimilar
valores éticos em suas produções teatrais, possibilitando-os a percepção
prática e visual das consequências do hiperconsumismo e especismo na interação
com o outro não animal;
ü Compreender conceitos
como do especismo e de pessoa em Peter Singer, ou ainda a problemática do
individualismo negativo que traz ao hiperconsumismo do outro, a fim de rever a
relação de poder entre as espécies diferentes e a importância do respeito a sua
própria natureza, dignidade e direito a vida;
ü Perceber a diferença
entre o conceito de pessoa e de ser humano, reconhecendo que não são
equivalentes, podendo existir a possibilidade de existência de pessoas não
humanas
ü Instigar ao
questionamento e debate reflexivo frente ações de cuidado com o outro, a fim de
perceber diferente formas de intencionalidades e consequências advindas destas,
assim como sua necessidade a nossa existência;
ü Contribuir à
constituição de referenciais éticos internos crítico-reflexivos sobre o agir
humano frente ao cuidado com o outro, contido nas escolhas pessoais,
possibilitando deste modo a projeção de hábitos e valores em seu círculo de
atuação social;
ü Reconhecer o
olhar crítico sobre seus próprios valores morais em confronto às situações
criadas em debate e com o outro, identificando estas divergências como abertura
a novos pensamentos;
ü Perceber a
relação entre a escolha, suas vontades e o discernimento a fim de possibilitar
a autonomia e assimilação em postura ética empregada ao bem estar do outro,
para além do individualismo hiperconsumista;
Início
das olimpíadas de filosofia:
08: 00 à Acolhida e confraternização com abertura
e socialização da temática da olimpíada de filosofia 2015 – etapa UCS.
Escolhas, divisão e encaminhamento
dos estudantes às respectivas salas reservadas para cada grupo temático, já
previamente separado para condução e abertura de um ambiente dialógico e
reflexivo, amparando-os a participarem ativamente após um breve acolhimento e devidas
apresentações. Neste momento inicial será enfatizado o tema geral da olímpiada pelo
qual estão reunidos do qual surgiram sete respectivas demarcações posteriores
em um conjunto de potenciais problemas existentes dentro desta abrangente temática
geral.
Início
da oficina temática sobre ética animal:
08: 15 à início interno das atividades em cada
oficina independente.
A partir de uma sensibilização
encaminhar-se-á a demarcação de uma das perspectivas compatíveis ao tema.
Seguiremos abordando ao problema da relação do homem com os animais
não-humanos. de modo que este grupo fique responsável por desenvolvê-lo
construindo um ambiente favorável à reflexão e respeitando a demanda do tema olímpico/filosófico
escolhido para este ano: “O cuidado com o
outro: que diferença isso faz
para nossas existências?".
Para iniciar nossa
temática interna, os estudantes serão convidados a assistir um curta original
de uma propaganda: https://www.youtube.com/watch?v=Xb69493-FLg. Este vídeo tem como
proposta sensibilizar não somente a questão pela qual fora criado originalmente,
do abandono desumano de animais ou ao maltrato dos mesmos, mas também, é
almejado aqui alcançar a um problema que será constantemente aprofundado ao
longo do desenvolvimento da oficina. Entre os focos de debate estarão alguns
itens como: o que acontece quando o excesso de cuidado confunde-se com o poder (e
tentativa) de humanizar aos animais. O que é ser o dono de um animal? Para
cuidar de um animal, este precisa ser meu? O que o animal é para nós, um objeto
de posse, outro ser igual a nós ou os dois? O que faz querer tê-los ou transformá-los
em um integrante da família? Será que não posso prejudica-lo ao trata-lo como
uma pessoa? É correto tratar qualquer animal com dignidade ou apenas os
domésticos? O que vocês acham que é a domesticação de um animal? Domesticar é
cuidar, possuir ou querer humanizar? Animais domésticos devem ter mais direitos
que os selvagens? Ou devemos respeitá-los em sua identidade de animal como
qualquer outro? Queremos humanizar os animais ou garantir direitos próprios a eles?
Fazemos isso por interesse, para protegê-los de nós mesmos ou para termos o
status de ‘salvadores’? Até que ponto eles dependem de nós e por quê? Qual a
importância deste outro animal para nós e para o futuro? Como cuidar dessa
outra espécie sem discriminá-la ou dominá-la? Devemos buscar conceder uma
dignidade humana a eles ou criar uma dignidade animal em respeito ao que são?
Entre outros que ocasionalmente possam surgir no decorrer do encontro.
Para que a condução do tempo ocorra dentro de uma expectativa
programada, far-se-ão necessários momentos de demarcações com uso de algumas perguntas
norteadoras intercaladas com temas dentro de slides, o que auxiliará tanto ao
foco como à aquisição de informações teóricas para enriquecimento das reflexões
e problematizações. Assim sendo, logo depois de passado o vídeo citado acima
(cerca de 3min. 30seg.), partindo dele os alunos serão convidados para, a
princípio, nos próximos 7 minutos elencar problemas que observaram ao longo
dele, como por exemplo: a forma de tratamento ao animal, por que fora escolhido
usar a representação do animal através de um ser humano, a criança? As atitudes
da família para com o bicho parecem ou são erradas, por quê? Será que os
filósofos já se preocuparam com questões similares ao longo da história? Como
será que eles viam a relação do homem com os animais desde a Grécia antiga até
os tempos de hoje? Será que ainda temos a mesma visão, evoluímos ou regredimos?
Enfim, as perguntas deverão aparecer de tal modo que se construam como um ponto
de partida para os slides.
Por volta das 8h: 25min será iniciado o uso dos slides que
remontam algumas passagens do pensamento humano ao longo da história frente
essa relação, passando por elementos favoráveis tanto à isenção como à
necessidade de cuidado e dignidade estendida aos animais não humano. Essa
trajetória visa elencar momentos distintos de pensamentos em suas épocas a fim
de estabelecer uma projeção sobre a evolução do tratamento e da perspectiva do
homem sobre os animais, explorando problemas desde a instrumentalização dos
mesmos por benefícios, possíveis preconceitos ocultos na suposta supremacia do
ser humano a eles, ou ainda frente à problemática do hiperconsumismo de nossa
era que em seu narcisismo individualista acaba por consumir aos outros como
objetos de posse. Nessa etapa entrarão fortalecidos elementos como supremacia
entre diferentes espécies ou raças; a posse sobre outra vida ou ser; a
humanização dos animais a ponto de anular sua natureza pela vontade de
transformá-los em equivalência com os seres humanos, não respeitando a preservação
de seus instintos e ambientações próprias a sua natureza e liberdade; a
diferença entre ser pessoa e ser humano com a visão de Singer da possibilidade
de pessoas não necessariamente humanas; o problema da indiferença e do vazio na
individualização das relações e ações humanas; sem esquecermos de explorar a
possibilidade de existência de um lado positivo ao individualismo, e seu
reflexo na responsabilidade e meios de agir na preservação e em aprendizagem
com este outro tão diferente de nós, mas ao mesmo tempo, tão próximos e de
extrema importância a nossa própria existência e conhecimento. Para este
cenário de construção dialógica de referenciais e reflexões serão reservados
aos próximos 50 minutos. Quando chegar ao sexto slide (Sínger), caso não atrapalhe
ao andamento do debate será passado o vídeo que contém um trecho de uma
entrevista com Sínger sobre o assunto (https://www.youtube.com/watch?v=lw74Q2w7NHE), apenas os primeiros 2min
e 30seg iniciais são suficientes para demarcar ao problema e potencializar o
cenário à reflexão. Ao final do plano seguem os conteúdos utilizados em formato
de slides que alimentarão às “discussões” e ao tema durante a parte central desta
oficina. Entre os slides serão combinados momentos de abertura constante a
dialogia e reflexão, sendo estes apenas dados como bases à promoção de
diferentes perspectivas sobre a abordagem da temática ao longo dos anos.
Encerrando ao
espaço reservado para o debate, possivelmente às 9h: 20min, iniciaremos com a
etapa destinada à produção autoral em forma teatral como expressão da
conceituação vivenciada pelos participantes desta oficina e, com intuito de
ampliar seu conteúdo ao alcance dos demais participantes dos outros grupos
posteriormente durante a plenária geral de socialização que acontecerá após o
intervalo e depois deste ensaio. Para esta será reservado um tempo de 30
minutos ou no máximo 40 minutos. Como auxílio
estrutural à criação desta peça teatral os alunos receberão um kit com algumas
sugestões de possíveis materiais a serem utilizados como recursos para garantir
agilidade e enriquecimento visual devido ao curto tempo disponível. Neste kit
terão: 03 máscaras de carrasco, 02 máscara de raposa e uma pele/rabo; 02
máscaras de gato; 02 máscaras de cachorro; 01 gato de pelúcia (versão de madame
ornamentado com joias); 01 onça de
pelúcia; 01 coleira; 1 roupa de onça; lápis de olho para fazer bigodes nos alunos
que ficarão dispostos no coro, podendo ser adaptados mais materiais de acordo
com o tempo e disponibilidade de recursos.
De posse destes
materiais disponíveis, da temática de fundo e de exemplos de atitudes práticas
vistos no debate, ambos agora deverão juntos elaborar uma encenação curta em
que se aplique à problemática investigada nos momentos anteriores sobre o
cuidado com o outro, o respeito às diferenças de cada espécie e costumes e a
diferença entre possuir o outro ou cuidar do outro com a preocupação centrada
na ideia de um posicionamento frente à humanização dos animais, radical ou não.
Neste espaço, todos deverão participar ativamente, dividindo-se tarefas de modo
que cada um tenha sua atuação, seja operando entre os papéis, ou roteiros, ou
narrações durante, ou na produção de uma frase sintetizadora final, além da
construção de material extra, caso necessário.
Estrutura prévia ao projeto
teatral: A voz oculta do animal quando o excesso de superioridade do homem
o transforma em seu objeto ou meio. Diferentes animais contracenando com
humanos que se rebelam expressando indignação do como são tratados. Com uma
estrutura prévia que servirá de suporte para que elaborem 02 cenas, ou de caça
ou de abandono, ou do tratamento de animal doméstico como posse ou ainda de
humanização do animal. Nela os 25 alunos deverão participar dividindo-se da
seguinte maneira sugestionada: até doze alunos para contracenarem no plano de
frente com execução de cenas lúdicas de acordo com a elaboração autoral dos
mesmos em conjunto, enquanto os outros treze constituíram um coro de fundo as
cenas operando com partes narrativas ou sonoplastias conforme a necessidade de
suas criações, interagindo de forma complementar às cenas centrais. Ex:
*até 03 alunos para serem os
carrascos serão: (Ex: caçadores, madames ou outro que eles tenham
em mente.
* até 06 alunos para serem os animais na cena: de
acordo com o uso das máscaras: 2 raposas, 2 cachorro e 2 gato.
* até 04 alunos para serem pessoas que demonstrem cuidado
com animais na cena (Ex: alguém que entre, reprima algum personagem e saia de
cena brabo, ou um mendigo que fica ao fundo acariciando um cachorro ao fundo na
cena, etc..)
* os 12/13 alunos restantes ficaram
em meio círculo atrás dos que
contracenam formando ao coro, para que os que saírem de cena
eventualmente possam se esconder dando espaço para que apenas os
carrascos e suas respectivas vítimas permaneçam em frente ao coro
para a finalização dramática da cena.
Estas cenas
principais seguirão podendo ser uma única em duas partes ou ainda trabalhando
com duas ideias distintas, conforme adesão dos alunos. O padrão inserido à
estrutura é que deve-se conter a ela o papel dos carrascos que
aparecem trazendo a imitação de alguma suposta "ação ruim comum da
sociedade para com os animais" de forma breve, mas significativa. As falas
e cenas ficarão a encargo dos alunos durante este período de elaboração da peça
e ensaio, devendo conter sons ou falas mínimas. A sugestão para cenas/falas
ficará na criatividade diante do uso dos objetos disponíveis no kit para a
performance em palco que ocupe no máximo 06 minutos em sua totalidade. Ainda para agilizar, como parte da
pré-estrutura estarão presentes duas falas do coro. Elas demarcarão cada
finalização e entrada das ações, controlando ao tempo. Delimitando cada entrada,
se em duas cenas principais (com os carrascos) como momento do corte após cada
ação ‘maléfica’ dos mesmos sobre os animais recitaram em coro: “FALA
SÉRIO!”. Essa frase sinalizará o início da primeira cena do carrasco e, ao
ser repetida, então dá entrada ao segundo. Quando começa a segunda cena, os
primeiros devem manter-se congelados como estão para não interferir na
encenação do outro carrasco. Quando estes acabarem, o coro finaliza outra vez a
tomada recitando juntos: "PONHAM-SE NO SEU LUGAR!". Nesta hora
cada animal vítima levantará, um por vez, tirará a máscara de seu carrasco e
dirá alguma frase curta que demonstre sua revolta (e que será criada em
conjunto na sala durante esta organização da peça). Depois das duas vítimas
falarem, novamente o CORO recitará (todos juntos) uma frase para terminar
provocando sua plateia a refletir se estão sendo dignos ao cuidar dos animais
(esta que também será criada durante o ensaio).
EXEMPLO das criações que
surgiram para as cenas principais na etapa da UCS e em Bento na escola sede
SAGRADO CORAÇÂO DE JESUS:
Na UCS: Os alunos
utilizaram de carrasco um caçador que tentou atirar em duas raposas, uma
fugiu buscando ajuda para sobreviver se escondendo no meio do público/plateia, enquanto
a outra morreu no palco. Seguindo-se a esta, houve a outra cena elaborada por
eles, onde dois gatos de rua chamam a atenção de uma criança que passeia com
sua mãe (o outro carrasco), mas que ao fazer isto, é reprimida de forma
autoritária pela mesma. Após a mãe arrasta sua filha para longe deles, pois os
mesmos ‘podiam estar cheio de pestes’, dando a criança um gato de raça
enfeitado com adereços da moda. Depois da fala Ponha-se no seu lugar! Houve a
inversão de papeis onde os animais ganharam voz ao postaram-se frente a seus
carrascos questionando as razões de suas ações.
No SAGRADO: alunos fizeram uma única cena
utilizando aos dois carrascos como caçadores e uma onça pintada. Uma aluna
ficou de árvore na qual os caçadores se esconderam para abater a onça, enquanto
um atirou, o outro arrancou a pele (foi-se usada uma roupa de onça solta). Essa
pele foi então levada a comercialização posta a ser vendida em um cabide onde
outra ‘atriz’ surgiu como compradora compulsiva da pele. Quando houve a fala do
coro: Fala sério!, aconteceu uma inversão de papeis onde a compradora teve sua
pele pendurada em um cabide. E, ao final com a frase em coro: Ponham-se no seu
lugar! Seguiu-se uma pergunta em coro a
plateia: Por que vestir esses egos? Nisso uma das alunas assumiu a frente e fez
um comentário do que foi visto na oficina sobre os egos, a ética animal e o
comportamento de superioridade a raça humana, quando se torna doentio usar o
homem como medida a todas as coisa.
09:50 à intervalo
10: 15 à reunião de todos os grupos no auditório
para plenária geral e socialização das atividades realizadas nos pequenos
grupos. Cada grupo terá seis minutos para sua apresentação e de seu tema.
Reservando mais alguns minutos para eventuais contratempos nas trocas dos
grupos e posicionamentos;
11: 00 à fechamento e abertura de um espaço ao
compartilhamento de experiências para algum eventual comentário pessoal sobre o
envolvimento das peças na temática central.
11: 20 à entrega das lembranças e do certificado
de participação com encerramento das atividades.
SLIDES QUE
PODEM SER UTILIZADOS COMO REFERENCIAIS A ENRIQUECER O DEBATE:
Slide
01:
Pitágoras
(séc. VI a. C.): “Enquanto o homem
continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores,
não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais,
eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não
pode colher a alegria e o amor”.
Pitágoras acreditava na transmigração da alma entre os seres,
qualquer um de nós poderia nascer como animal ou vice-versa. Assim, os membros
de sua comunidade procuravam não matar ou consumir animais já naquela época.
Aristóteles (séc. IV a. C.):
ao classificar a alma em três partes: vegetativa, animal e racional, colocou os
animais como inferiores aos seres humanos, pois mesmo tendo percepção
sensorial, seriam irracionais. Assim, limitavam-se a agir apenas por instinto,
não podendo desenvolver interesses próprios. Portanto, sua existência menor
seria ligada a servir aos homens.
Slide 02
Descartes
(séc. XVII d. C.): defendia que animais não possuíam “alma”, pois
acreditava serem compostos apenas de corpos, que funcionavam como meras
“máquinas autômatos”, ou seja, além de não pensarem, nem sequer sentiria dor ou
prazer. Portanto, não havia problemas em usá-los ou mata-los por qualquer
benefício ao homem.
Exemplo: O papagaio tem o órgão para falar, mas lhe falta algo de
natureza não mecânica, uma alma racional. As habilidades nos animais são tão
restritas como às de um relógio que funciona mecanicamente, mede o tempo
com mais precisão que o homem, mas nem por isso podemos afirmar que seja dotado
de razão.
Slide 03
Voltaire:
em resposta a Descartes, escreveu:
“Que
ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas
privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira,
que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho
sentimento, memória, ideias? [...] Vê
com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com
ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de
aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem
manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias.
Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade,
pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias
mesentéricas.”
Shopenhauger (séc. XIX d. C.): “amaldiçoada toda moralidade
que não veja uma unidade essencial em todos os olhos que enxergam o sol”. Com
estas palavras acusava a moral humana de ser cegamente seletiva.
Slide 04
Rousseau
(séc. XVIII d. C.): “Em cada animal não vejo senão uma
máquina engenhosa, à qual a natureza ofereceu sentidos para recompor-se por si
mesma, e para defender-se, até certo ponto, de tudo o que tende a destruí-la ou
estragá-la. Percebo exatamente as mesmas coisas na máquina humana, com a
diferença de que a natureza faz tudo nas ações do animal, enquanto o homem
concorre para as suas, na qualidade de agente livre”.
Percebes a sutil mudança de pensamento, ainda que não racionais ou
livres como o homem, animais possuem sensações e emoções?
Isso garante alguma forma de respeito e responsabilidade do homem
sobre seu sofrimento?
Ambos, homem e animais não humanos, deveriam ter para si o mesmo
direito diante de abusos e mal tratos desumanos?
Afinal, animais têm, ou não, uma alma, seja ela instintiva ou
racional?
E
antes disso, é realmente necessário que a razão seja o critério para selecionar
quem tem direito a vida ou mereça cuidados?
Slide
05
Kant (séc. XVIII d.
C.): fala sobre direito à dignidade humana, afirmando
que somente as pessoas poderiam ter dignidade e respeito.
Pessoa em Kant
representa todo ser racional. Outros pertenceriam à classe de coisas com valor
instrumental, de utilidade para o homem.
Na moral kantiana, o homem deve ter seu
direito à vida garantido por lei e, quando pessoas fossem utilizadas como um
meio por outras ou para algum fim, teriam sua dignidade ferida/ roubada.
Mas
tudo que não é racional, por não ser pessoa, pode então ser usado como
um meio ou satisfação própria?
Será
que todo homem é racional?
Ser
pessoa é o mesmo que ser humano?
E
estas exceções entre os seres humanos podem ter os mesmos direitos, já que não
estão em sua plena capacidade?
Slide
06
Peter
Singer (1946): defende que a questão moral de direito ao
respeito não condiz com o fato de um ser ter ou não a capacidade de pensar e
falar, mas antes disso, se ela pode sentir.
Singer
acredita ao longo da história, confundimos o conceito de pessoa com o ser
humano, naturalizando-os como equivalentes, o que não são:
Homem:
pertencente a raça homo sapiens (pensante ou não). Incluem-se fetos,
psicopatas, portadores de deficiência mental ou indivíduos em coma.
Pessoa:
ser de certas habilidades humanas, tais como: ter autoconsciência, ser
senciente, capaz de desejar, de expressar intencionalidades (interesses) ou
projetar ações futuras, reconhecer-se como existente no espaço/tempo
continuamente. (Ex. macacos e alguns animais em graus menores).
Se
nem todos os seres humanos podem ser considerados pessoas, nem todos mereceriam
respeito e dignidade. Mas, todos são defendidos por lei?
E,
se outros animais não-humanos pudessem vir a se encaixar neste mesmo perfil de
pessoa. As exceções que temos não deveriam ser defendidas por lei também?
Slide
07
E,
se toda pessoa tem direito à vida, defendido por lei, ao prejudicar um animal
qualquer, como podemos ter certeza de que não estamos igualmente ferindo seus
direitos como uma possível pessoa não humana?
Por
que razão o status moral dos animais não humanos é inferior que o de seres
humanos? Por que separar o direito à vida dos animais dos do homem? Diferentes
espécies merecem diferentes tratamentos?
A
noção de dignidade está ligada apenas a raça humana? Ser humano nos faz, de
alguma forma, superior às outras formas de vida? É problema existir a
superioridade de uma espécie sobre outra?
Se
ao determinar que uma raça é superior a outra estivermos cometendo uma
irracionalidade?
Como
decidir qual vida vale mais em situações de escolha entre ambos? É possível
minimizar efeitos negativos nessa seleção?
Slide
08
Lipovetsky
(1944): nos alerta que vivemos numa era do
individualismo, com tendência para seu lado negativo, o hiperconsumismo. Neste,
tudo se torna objeto de consumo (amor, trabalho, família, amigos, animais,...)
Impera
uma vontade incontrolável ou inconsciente ao prazer de ter algo novo. Desejo
sem fim que se estende sobre o outro em busca da autossatisfação, mas ao poder
possuir a tudo, se angústia e sofre perante o vazio e a solidão desse
isolamento individual da posse.
Problema
moderno: o desejo de satisfação individual acima do bem estar coletivo, a era
da indiferença.
Ser
indiferente é aquele ser que quer muito, em nada se apega, não tem certeza
alguma, se prepara para tudo e muda facilmente de opinião.
Antes
de ser uma pessoa, tornamo-nos estereótipos, sendo artificiais, da moda,
inconstantes e descartáveis.
O
que acontece quando o individualismo te torna o único “EU” no mundo que sente,
sofre ou deseja?
Slide 09
Alguém
que vive de status ou “modinhas” tem identidade ou passa a ser um objeto
também?
E
quando torna-se natural obter prazer ou reconhecimento a qualquer custo ou
através da posse sobre o outro?
É
possível ser dono de algo ou alguém que não seja um objeto? Qual o problema
dessa relação de poder e posse que naturalizamos?
Existe
quem use aos outros, como meio de (auto) ostentação ou satisfação?
E
animais, é certo utilizá-los como meio ao benefício humano? Até que ponto? Há
possibilidade de consumo saudável?
Podemos
consumir ao outro com esta ideia da: “liberdade de ser e ter o que e quem
quiser”?
Como
transformar essa força individual presente na nossa era para além do interesse
próprio, mas em algo benéfico para com o outro e a sociedade?
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