segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Como ensinar de maneira significativa Filosofia?

“Como ensinar de maneira significativa Filosofia?” Essa pergunta não é fácil, são diversas perspectivas para responder a esta pergunta. Trago aqui algumas críticas abordadas por Gallo para trazer a discussão e a provocação aos leitores.

Para isto vejamos algumas críticas já feitas sobre o ensino de filosofia:

O afastamento do ensino enciclopédico;

A apresentação da matéria não pode cair em um ensino enciclopédico, pois deste modo não há filosofia. Nietzsche já apresentava esta crítica em “Schopenhauer como educador” ao ensino alemão de filosofia tanto nas escolas como nas universidades. Aos jovens alemães, segundo Nietzsche, eram ensinados “uma série de sistemas filosóficos, seus princípios doutrinários e as críticas a esses sistemas”. Resultando um exercício da memória dos alunos que decoravam todo o conteúdo e após as provas logo esqueciam. E o desprezo vinha desta relação a filosofia como apenas mais uma matéria para ser posta em uma prova e nada mais.
O conteúdo apresentado ao aluno tem de fazer parte da vida dele. Tem de ser um problema significativo ou apresentado de forma que esta relação possa ser estabelecida do aluno com a matéria.

A atuação em sala de aula como professor ignorante.

A atuação do professor em sala de aula tem de assumir uma postura em que ele fuja da explicação. A explicação segundo Rancière não emancipa o aluno, pois ela produz um consenso. E isto porque explicar, para o filósofo francês, não é um esclarecimento ou um desembaraçar do conteúdo, mas o seu oposto. Com a explicação se postula como um consenso.
Um modo de fuga desta perspectiva é o que Rancière considera um professor “ignorante”. Este se faz como suporte para a decisão de aprender, que é própria do aluno. Na filosofia o conhecimento aberto por natureza típico do conhecimento pela ignorância. Neste se tem uma aposta muito maior no problema do que na solução. Assim não caí no problema da explicação que é anti-filosófica.
Estes dois pontos que são trazidos por Sílvio Gallo no artigo Para Além da Explicação: o professor e o aprendizado ativo da filosofia mostram a possibilidade de um engessamento do ensino de filosofia. Entretanto mesmo na proposta da “pedagogia do conceito”, não podemos esquecer que é necessário criar uma base. Então é sim preciso, ao meu ver, uma apresentação de conteúdos, mas que ela não seja sem uma finalidade lúdica. Se ensina um conteúdo de modo que ele flexibilize um filosofar. A “pedagogia do conceito” trata desta base teórica como o plano de imanência e este é fundamental para a construção conceitual. O professor como “ignorante” dá aos alunos mais autonomia para pensar e analisar aquilo que se estuda. Isso não quer dizer que tudo o que considerarem como certo deverá assim ser entendido. O movimento proposto é o de que a fundamentação daquilo que querem sustentar sejam demonstradas.
Percebo que como uma possível saída pode-se tentar explorar o contexto e a diversidade de cada sala de aula. Assim acredito que para tratar da filosofia de forma que seja mais atrativa para todos é necessário que ela seja pertinente aos alunos. A filosofia não pode recair em algo que apenas apresenta nomes, datas, sistemas e críticas aos sistemas. Ela tem de ser ativa, pois ela precisa ser uma prática, um olhar radical. Tem de estimular o senso crítico e a autonomia dos alunos. No contexto em que vivemos estas competências parecem que são cada vez mais necessárias. Seja na política ou até no agir mais corriqueiro um pensar mais elaborado, mais crítico, deve ser incentivado. Não seria objetivo único e exclusivo da filosofia, mas algo a ser construído por várias vias.

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