Essa
oficina ocorreu na Escola Estadual Lidovino Fantón, localizada num bairro de
periferia em Porto Alegre. Nesse sentido a realidade contextual do ambiente
vivenciado é de certa disparidade econômica, social e cultural no que tange uma
relação a outras partes da cidade mais elitizadas. Percebeu-se no discurso dos
estudantes durante a oficina essa preocupação com sua realidade, pois, com
efeito, essa ambiente é comumente visto como problemático perante a sociedade.
Isso se justifica pelas drogas, roubos, situação econômica difícil. Em virtude
disso a linha argumentativa da professora que ministrou oficina foi algo mais
ligado a dualidade opressor e oprimido, tendo em vista indagar sobre o que o
segundo grupo faz para sair de tal quadro, já que o considera problemática.
Foram usados recursos metodológicos
como vídeos, imagens, um semicírculo, bastante diálogo-exposição, música. Uma
crítica póstuma a ser feita aos professores da escola que participaram da
oficina foi de que eles intervieram na discussão muitas vezes, por meio de argumentos
muitos elaborados para o entendimento dos estudantes. Isso se tornou um
problema pelo fato de que o público alvo eram os estudantes, sendo que tal
atitude gerou inibição nos mesmos. Percebeu-se que se os professores estão
argumentando de tal modo, como eles sendo meros estudantes poderiam se
expressar de outra forma, quiçá mais produtiva e reflexiva. Embora, a oficineira tenha tentado clarificar
as questões e torná-las mais inteligíveis aos presentes. Ocorrendo uma espécie
de tradução.
“Tudo tem história. Nós somos
seres históricos”. Esta foi uma frase dita pela condutora da oficina no meio de
sua apresentação, além de ter sido o aspecto principal de sua linha de
argumentação e condução das dinâmicas. Isso nos instiga a indagar o que o homem
é o homem; como funciona a relação agir-pensar nesse ser; negando a ideia de
uma história estática, por meio de uma natureza imutável no que tange a ser
dada a priori. Ao invés disso o que temos é a ênfase na alteridade, também na
cultura como fator de diferenciação entre as pessoas e sociedades. O cuidado em
entender a forma como se estabeleceu a alteridade, ou a falta dela,
historicamente visando demonstrar aos estudantes que o outro tem de ser
respeito em suas subjetividades foi ressaltado também. Dessa forma, a verdade é
muito mais histórica e contingente, do que algo que se estabeleceu de forma
pronta. Num sentido além tal argumento pretendeu estimular os estudantes a
questionarem suas realidades.
O
tipo de vida que levam a maioria dos estudantes, por estar ligado a uma
situação econômica difícil pode ser transformado, sendo que está carregado de
diversos tipos de violência simbólica, física, cultural? Todas as indagações
culminaram para esse rumo de investigação. Embora, não através de uma pergunta
tão incisiva como essa. Podemos pensar sobre a natureza humana também, sendo
ela boa ou mal, constituída ou já destinada?
A
alteridade não teve uma explicação densa, ate pelo nível de estudo dos
estudantes. No entanto, a ideia de outro e a decorrente preocupação com ele,
apareceu na problematização. Excepcionalmente quando a professora utilizou
algumas formatações diferentes do mapa mundo, uma vez que indagou se existe
apenas uma forma de interpretar as coisas, se aquela formatação não poderia ser
algo eurocêntrico. Nesse sentido, a colonização e a posterior exploração dos
povos latino-americanos foram pormenorizadas, mediante elementos ligados a
riqueza que foi retirada das Américas; o enriquecimento da Europa; a exploração
do trabalho indígena; as diversas mortes nas guerras de conquista; se tornaram linhas
de raciocínio para pensar que a história das Américas, por exemplo, ocorreu de
uma certa forma, e por isso hoje temos várias coisas que são da forma que se apresentam.
Logo, não se trata de atraso mental. A alteridade foi um aspecto pouco presente
nesse contexto, pois, com efeito, houve muito pré-conceito, inferiorização do
outro, negação de gênero/sexualidade, subjugação da diversidade.
Em suma, a dualidade do trabalho da
professora recaiu sobre o fazer e o pré-dado. O que não se muda, e o que pode
ser transformado através da ação e pensando humano. Nesse sentido é possível
uma ambivalência entre o material e o imaterial? Como ficam os sentimentos, a
vida, num mundo tomado pela ênfase exacerbada no dinheiro? A vida que vale a
pensa ser vivida, que é digna possui formula exata? A cultura tem veio de ser
fator importante na constituição do caráter, da personalidade? Através da
recorrência aos nossos ancestrais, efetuando um percurso histórico até a
atualidade e uma aproximação com a realidade dos estudantes da escola da
restinga se efetuou a oficina.
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