sábado, 14 de janeiro de 2017

Sobre a vida: entre o epicurismo e o estoicismo

          Devido ao fato da vida humana ser uma questão complexa muito se diz acerca dela, tal como deve ser empreendida, os melhores caminhos, as melhores fruições, os melhores prazeres, o trabalho perfeito, se a razão ou a emoção é a melhor, a aposentadoria desejada (agora não mais com o desgoverno Temer). Todavia, cabe indagar qual a vida que vale a pena ser vivida? E nesse sentido será que existe apenas um modelo de vida perfeito que sirva como referência universal, em outra medida, a vida se constrói como uma obra de arte, de tal modo que a regra deste modo de existir é justamente o fato de não ter regras a priori, isto é, antes da experiência ou da vivência. Embora, à medida que o sujeito vai se constituindo certamente irá formular preceitos que o guiem na sua conduta, entretanto, não são rígidos e imutáveis.                
           Em tudo que se pode viver são dois os aspectos centrais que nos fazem deliberar em relação às coisas, a saber, a quantidade e a qualidade. Se o sujeito optar pelo quesito da qualidade provavelmente estará fazendo uso de coisas mais refinadas, difíceis de encontrar, a justa medida. Outrossim, se decidir pela quantidade estará abarcando em sua decisão mais elementos como o tempo de duração, o número de envolvidos. Conquanto, será possível uma justaposição entre ambos os aspectos ou são irreconciliáveis? Duas correntes filosóficas antigas são responsáveis por discutirem intensamente no que tange esses dois aspectos, a saber, o estoicismo e o epicurismo.
        O estoicismo valoriza mais a atividade racional, e, por conseguinte, o pensamento, o raciocínio, em suma a qualidade de qualquer preceito a ser vivido. Entre os adeptos temos Sêneca, Cícero, por exemplo. Por sua vez, o epicurismo preza mais pela quantidade das possíveis ocupações, claro que isso não significa necessariamente desmesura ou excesso de uma ação, uma vez que se pode usufruir de várias coisas em grandes quantidades de modo equilibrado. Em outras palavras o epicurismo afirma que se deve garantir o que está ao seu alcance naquele momento, e, assim aproveitado, também conhecido de outra forma num ditado popular quando diz que “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. São adeptos Epicuro, por exemplo. Já o estoicismo ruma a uma vida mais contemplativa e ligada as questões relativas à alma, no caso de o ser humano ter dado o “azar” de vir ao mundo, cabe agora fazer da sua existência uma obra de arte, conforme a sua potência de vida, e, nesse ínterim, o seu melhor de acordo com o que ele é, e poderá vir a ser.
         “Aprender a viver a vida inteira” é um preceito importante na filosofia antiga, e cada qual a sua forma é o que buscam tanto o epicurismo quanto o estoicismo, bem verdade que um pela via da qualidade e outro quantidade, no entanto, talvez seja possível uma justaposição entre ambos de acordo com a ideia de que em certos momentos vale mais a quantidade das ações, por sua vez em outras ocasiões a qualidade delas. Isso desde que a sabedoria seja tamanha e consiga agir bem de acordo com o contexto. O fato é que a discussão de um tema como esse é longa, assim como a vida.

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